segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Dr. Sousa Martins



 
José Tomaz de Sousa Martins
(07/03/1843 – 18/08/1897)

Nasceu em Alhandra a 7 de Março de 1843, filho de Caetano Martins, carpinteiro, e de Maria das Dores de Sousa Martins, doméstica, uma família com escassos recursos económicos.
Ficou órfão de pai aos 7 anos de idade.

Aos 12 anos partiu para Lisboa a conselho da mãe, trabalhando com seu tio, farmacêutico, aprendendo o ofício na Farmácia Ultramarina, na Rua de São Paulo e frequentando o Liceu Nacional de Lisboa.

A partir de 1 de Abril de 1856 iniciou oficialmente funções como praticante na botica da Farmácia Ultramarina.
Tornou-se exímio manipulador de produtos naturais e adquiriu uma experiência que depois muito valorizou como Médico e Professor de Medicina.

Terminado o curso liceal, concluiu em 1861 os estudos preparatórios na Escola Politécnica de Lisboa, ingressando seguidamente no curso de Medicina da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, e no ano seguinte, no Curso de Farmácia, onde, os conhecimentos que adquirira enquanto praticante de farmácia, o ajudaram a terminar em 1864, com 21 anos de idade, o curso de Farmacêutico, com excelente classificação.

Após a conclusão do curso de Farmácia, decidiu continuar os estudos, e concluiu em 1866, com apenas 23 anos de idade, também na Escola Médico-Cirurgica de Lisboa, o Curso de Medicina, apresentando como tese de licenciatura o trabalho intitulado O Pneumogástrico que preside à tonicidade da fibra muscular do coração.

A 13 de Julho de 1864, foi eleito sócio efectivo da Sociedade Farmacêutica Lusitana.

Foi durante mais de uma década vogal da Comissão de Saúde Pública da Sociedade.

A 4 de Agosto de 1874, foi feito membro benemérito da Sociedade, com fundamento na maneira brilhante como desempenhou o difícil e honroso encargo de representante de Portugal no Congresso de Viena, nos assuntos de Quarentenas e Medidas Sanitárias.

Em 1867, foi feito sócio correspondente da Academia Real das Ciências de Lisboa.

Concluído o curso de Médico, como aluno brilhante, em 1868, foi nomeado, após concurso público, para o cargo de demonstrador da Secção Médica da Escola Médico-cirúrgica de Lisboa.

Nesse mesmo ano, foi eleito sócio da Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa, iniciando uma carreira ligada ao ensino e investigação na área da Medicina.

Em 1872, foi nomeado Lente da Escola Médico-cirúrgica de Lisboa e em 1874, Médico extraordinário do Hospital de São José.

No exercício da Medicina, era ímpar como o demonstra o conselho que correu os corredores hospitalares:

"Quando entrardes de noite num hospital e ouvirdes algum doente gemer, aproximai-vos do seu leito, vede o que precisa o pobre enfermo e, se não tiverdes mais nada para lhe dar, dai-lhe um sorriso." 

Mesmo depois da sua morte, as suas lições coligidas foram referência obrigatória durante décadas.

Foi Secretário e Bibliotecário da Escola Médico-cirúrgica de Lisboa, Catedrático de Patologia Geral, Semiologia e História da Medicina;
Presidente da Comissão Executiva e da Secção de Medicina da expedição científica à Serra da Estrela, organizada em 1881 pela Sociedade de Geografia de Lisboa e Director efectivo da Enfermaria de São Miguel, no Hospital de São José.

Foi importante a sua acção filantrópica a favor dos doentes mais pobres, o que o afirmou como um dos Médicos mais prestigiados de Portugal.

Ganhou enorme prestígio na luta contra a Tuberculose, que então atingia proporções epidémicas em Lisboa, que reforçou ao liderar a expedição científica à Serra da Estrela e ao defender a construção naquelas montanhas de Sanatórios, destinados à Climoterapia daquela doença.

O principal objectivo do Dr. Sousa Martins, era a construção de um Sanatório na Serra da Estrela que de forma permanente pudesse acolher e tratar doentes com tuberculose pulmonar.
Apesar do seu esforço e da sua influência junto da Coroa, já que desde 1868 era Médico Honorário da Real Câmara de Suas Majestades e Altezas e do Governo, a iniciativa, aclamada por todos, tardou em materializar-se e o Sanatório proposto, apenas seria construído, após a sua morte.

Foi também escolhido para representar Portugal em diversos eventos internacionais na área da Medicina:
em 1874 foi nomeado delegado à Conferência Sanitária Internacional realizada em Viena;
e em 1897 foi delegado à Conferência Sanitária Internacional, realizada em Veneza, onde foi eleito vice-presidente.

Faleceu aos 54 anos, tuberculoso terminal, sofrendo de lesão cardíaca.

Na mensagem que enviou ao saber da morte de Sousa Martins, o rei D. Carlos I de Portugal, afirmou:

"Ao deixar o mundo, chorou-o toda a terra que o conheceu. Foi uma perda irreparável, uma perda nacional, apagando-se com ele a maior luz do meu reino." 

Também sobre ele, o Dr. António Egas Moniz, Prémio Nobel da Medicina, disse:

"Notável Professor que deixou, atrás de si, um nome aureolado de prelector admirável, de clínico, de orador consagrado, sempre alerta nas justas causas da Sociedade das Ciências Médicas." 

Por sua vez, Guerra Junqueiro, considerou-o:

"Eminente homem que radiou amor, encanto, esperança, alegria e generosidade. Foi amigo, carinhoso e dedicado, dos pobres e dos poetas. A sua mão guiou, o seu coração perdoou, a sua boca ensinou. Honrou a Medicina Portuguesa e todos os que nele procuraram cura para os seus males. " 

O Dr. Sousa Martins, foi um adepto do Espiritismo e muitos dos seus seguidores, atribuem-lhe curas por intermédio das suas intervenções mediúnicas.

A 7 de Março e a 18 de Agosto de cada ano, aniversários do seu nascimento e da sua morte milhares de devotos visitam e oram sobre o seu túmulo.
FONTE: Jornal Espírita de Viseu - nº.328 - Março 2011 (pág.16)